13 Reasons Why surpreende em sua segunda temporada

Hanna Baker está morta. Após uma intensa explicação, por meio de 13 fitas endereçadas à 13 pessoas diferentes, as razões de sua morte foram pontuadas, uma a uma, de forma crescente e gradativa, e a série produzida pela cantora e atriz Selena Gomez  virou um sucesso imediato e serviu para endereçar a questão do bullying e da questão sexual de forma inédita na TV. Mas o que ficou por ser dito após uma primeira temporada com fechamento bem claro?
Aparentemente muito havia para ser dito, o que do ponto de vista estritamente narrativo é algo extremamente perigoso, pois pode mexer em questões que ficaram estabelecidas na cabeça dos fãs, de forma a tirar força da história posta. E foi o que aconteceu.
Entre as novas revelações, havia um intenso romance com um personagem conhecido, o que, para alguns fãs, poderia modificar a sua razão de tirar a própria vida, ou então ao menos tirar força de parte dos acontecimentos narrados na primeira temporada. Talvez esse fato, em conjunto com a forma de utilização da personagem de Hanna foram os pontos que geraram mais controvérsia nessa segunda temporada, uma vez que a figura de Hanna aparecia constantemente para Clay (se está no trailer, não é spoiler), mas de forma questionável: não se sabe ainda se era um fantasma, uma alucinação ou simplesmente uma manifestação do subconsciente de Clay, tentando lidar com a dor e a perda. Até aí tudo bem, o problema é que a figura envolvia características de cada um, sem ser possível sua definição. E como último ponto de atenção, fica a onisciência da escola, que enquanto não tinha ideia do que se passava em seus corredores, tudo sabia no tribunal, até o que havia acontecido na intimidade de duas pessoas. Fica por conta da licença poética da diretora Jessica Yu, em um belíssimo trabalho.
Fora as críticas, vale a pena destacar o belíssimo trabalho de roteirização e direção, que conseguiu criar cenas ainda mais tocantes e emocionantes que na primeira temporada, e trabalhar tanto com a razão quanto com a emoção, criando desenrolares marcantes para a discussão no tribunal, o ambiente do vestiário, as decisões online e os próprios corretores (e arredores) da escola. Talvez o que marque essa segunda temporada seja justamente sua universalidade, pois se no primeiro ato houve uma agressão dirigida a um público específico, neste ato a agressão foi voltada à outro público, servindo como um trabalho de conscientização melhor que mil campanhas. Diversão, educação e mensagem clara. 


Tanto é que desde o primeiro capítulo começa a ser construído um arco narrativo que prenuncia outro grande evento de bullying que marca as escolas norte-americanas, subtrama carregada até o momento derradeiro da temporada. Se as 13 fitas da primeira temporada deram voz à Hanna Baker, a segunda temporada deu voz à um universo muito maior de vítimas, voltando-se para dentro de si mesma e escancarando um problema muito mais profundo que uma agressão pontual, mostrando que a culpa atinge muito mais que 13 pessoas em 13 fitas. Vale como entretenimento e como debate.

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